terça-feira, 5 de agosto de 2014

Afinal, pelo próximo ou não?

Perdi a conta das vezes em que comecei a escrever esse texto e apaguei, sem inspiração, sem saber por onde começar, sem motivação. Existem dias em que tudo que desejamos é ouvir uma música suave, na companhia silenciosa e discreta de um gato ou um cachorro, ou de ambos. Nestes momentos mais introspectivos, temos uma visão de maior amplitude a respeito da humanidade. É quando temos uma maior compreensão acerca do que as pessoas são capazes de fazer, do que lhes serve como gatilho para certas atitudes. Garanto que isso é uma terapia e exercício de imaginação incríveis.
Aliado a esse marasmo físico e letargia mental, recentes acontecimentos me trazem  uma indagação a respeito da nossa humanidade: Em todas as atitudes das pessoas existem motivações pessoais, egoístas? Existem sempre um pouco de "eu" em tudo aquilo que fazemos pelos outros?  Eu sei que as pessoas são diferentes; que aquilo que inspira umas não necessariamente surte efeito em outras. Isso é o mais interessante: saber que por trás de tantas expressões, escondidas em tantos sorrisos, existem pessoas únicas, com suas peculiaridades, e isso as torna especiais. Mas será que não existe, na camada menos visível de nós mesmos, um grande ponto em comum? Algo que seja inerente a todos os seres humanos, como por exemplo a egocentricidade!?
Somos egocêntricos por natureza? 
Quando ajudamos, por exemplo, alguém a carregar sacolas ou uma velhinha a atravessar a rua, estamos fazendo apenas pelo bem ao próximo ou é, na verdade, pela esperança de sentir na alma aquela sensação aliviadora de ter feito algo bom a alguém? Na verdade fazer coisas boas é tao bom que afeta ambas as partes: o beneficiado e o beneficiador. Mas saber por que a pessoa fez (e faz!) é que é o mais difícil. Talvez ela própria nem saiba: acredita que fez pelo bem do semelhante e na verdade, no seu inconsciente (ou seria subconsciente?) ela está ansiosa por sentir aquele prazer indescritível de ser útil verdadeiramente a alguém. 
Podemos nos deparar com pessoas de coração tão puro que abram mão, de fato, do seu prazer pelo de outrem? Nossas esperanças na humanidade já foram tão maculadas com péssimos exemplos, que no fim não nos resta muitas fichas para apostar. Acabamos criando verdade tidas como absolutas, baseadas nesse apanhado de vivências e experiências que nutre uma mente. 
Essa imagem marmorizada que criamos de nossa própria raça acaba comprometendo a maneira como nos relacionamos em sociedade. Vivemos com medo de sermos ludibriados e usados, de sofrermos decepções, enfim, de sofrermos na amplitude da palavra! 
Envolvemo- nos com reservas,  entregamo- nos parcialmente, nunca nos doamos por completo. Não julgo, não critico e tampouco me excluo disso! 
E então, os relacionamentos tendem à efemeridade, à superficiliadade, à falsidade. 
Deixemos, portanto, uma porção salutar de ingenuidade tomar conta de nossos corações e mentes, ela é necessária para convivermos em meio às outras pessoas. Desarmados, podemos nos aproximar, e deixar que se aproximem, sem medo, sem "e se?", sem "não posso ". Retomar o afeto do homem pelo próprio homem, exercitar a empatia autêntica, são as únicas formas de sermos novamente humanos!

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